A forma como diferentes culturas lidam com Iku (a morte) revela muito sobre a sua filosofia de vida. A visão amplamente disseminada no Ocidente, herdada da tradição Judaico-Cristã, frequentemente impõe luto, culpa e tragédia. Contudo, a sabedoria ancestral Iorubá oferece uma perspetiva radicalmente diferente: a morte como necessidade evolutiva e regresso à verdadeira essência.
I. O Contraste de Perspetivas: Luto vs. Alívio
O autor argumenta que o luto imposto pela sociedade ocidental é muitas vezes carregado de culpa, devido à negligência dos vivos para com os desejos do falecido.
A visão Iorubá, por outro lado, ensina que o ser humano é, na verdade, Emi (espírito). Olodumaré (Deus criador) na Sua benevolência, oferece a oportunidade de regressar à Ara (a Terra) para alcançar a perfeição espiritual.
A morte, portanto, não é o fim, mas um passo necessário para a reencarnação e a evolução contínua da essência.
II. A Verdade da Partida (Ara Onu)
Em vez de sofrer pela perda, a tradição Iorubá convida à celebração e ao alívio:
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Fim do Sofrimento Terreno: O falecido terminou as suas lutas, as suas doenças e os sofrimentos inerentes à existência humana (torturas, falsidade, guerras).
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Regresso ao Lar: O espírito (Emi) regressou à sua verdadeira casa: Ara Onu (o Céu ou o outro mundo), onde será recebido pelos Egguns (os espíritos ancestrais).
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Festa e Alegria: O Orixá Shangó, que "tem medo" do sofrimento e não da morte em si, reflete esta filosofia: a vida deve ser vivida com festa, riso e gargalhadas. O funeral deve ser uma festa de despedida com alegria, celebrando o fim da dor.
"Não sofram pela perda dessa pessoa, pois agora regressou à Ara Onu... agradeçam e façam uma festa de despedida com alegria e gargalhadas, pois deixou de sofrer."
III. A Crítica aos Vivos: A Desgraça da Permanência
O texto contém uma crítica poderosa à condição humana dos "vivos":
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Tortura Kármica: O autor inverte a noção de desgraça: a desgraça é de quem ficou, pois são os "vivos" que devem suportar as provações, as traições, a miséria e a falsidade da sociedade.
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A Prova do Perdão: O verdadeiro teste (prova de fogo) para os vivos é exercer o perdão e livrar-se de rancores e ódios.
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A Epidemia da Ignorância: O autor lamenta que a "moda" seja a ignorância, os "cordeiros" e a falta de bom senso. Muitos estão ocupados a viver a vida dos outros, a denegrir e a ferir, em vez de se concentrarem em "limpar a porcaria" dos seus próprios problemas.
IV. Sabedoria e Solução Final
A sabedoria ancestral, embora acessível a muitos, só é praticada por uma minoria que alcança o sucesso e, consequentemente, é alvo de cobiça.
A única solução radical para os problemas da humanidade, na visão extrema do autor, seria a morte coletiva, para que Olodumaré pudesse selecionar os "mais capazes e cheios de compreensão" para regressar à Ara e recomeçar a evolução.
O texto conclui com o antigo ditado iorubá sobre a sabedoria:
O homem sábio não se presume sábio. O homem que presume ser sábio, não o é. O homem que na realidade é sábio não demonstra o que é.
