O artigo aborda o papel crucial das mulheres (Apetebis, Ihanifahs) na tradição Iorubá, reconhecendo a sua importância, mas criticando o modo como a sua função é limitada pela interpretação "machista" dos fundamentos religiosos.
I. A Função de Apetebi de Orúnmìlà
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Definição: Uma mulher torna-se Apetebi de Orúnmìlà quando recebe o seu Ekofá.
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Origem Mítica: Esta cerimónia tem a duração de três dias e nasceu no odun Odí Méjì, onde a primeira mulher a ser consagrada em Ekofá foi a Orichá Oxum (Osun).
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Destino e Casamento: Em Ifá, o odù (signo) pode revelar que uma mulher deve ser Apetebi e, se for o caso, deve casar com um Babalawo (sacerdote de Ifá). Isto é alegadamente feito para garantir-lhe "uma vida confortável, sem problemas e longa, assim como muitos filhos".
II. O Papel e as Restrições Femininas na Religião
Embora as mulheres desempenhem um papel significativo, as suas funções são bem definidas, com distinções entre os cultos de Ifá e Ocha (Santeria):
A. No Culto de Ifá (Apetebi):
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Interpretação de Ifá: Desempenha um papel passivo.
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Consulta: Não estão proibidas de consultar o oráculo através de um Babaláwo.
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Organização: Desempenha um papel ativo na organização de muitos rituais.
B. No Culto de Ocha (Santeria):
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Interpretação de Ocha: Podem atuar livremente e sem restrições.
C. Funções Operacionais e Responsabilidades:
As mulheres, especialmente as esposas de Awoses (Babalawo) ou as Apetebis, têm múltiplas responsabilidades vitais:
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Limpeza dos Orichás: É responsável, juntamente com o Awo, pela limpeza dos Orichás (unindo os fatores homem-mulher).
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Preparação dos Rituais: É responsável pela recolha dos animais e pela sua colocação na esteira.
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Iniciações: É responsável pela iniciação dos Orichás dos afilhados do marido (Awo).
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Apoio e Secretariado: É a secretária absoluta do Babaláwo ou do Oloricha.
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Oferendas e Logística: Oferece o "omi tutu" (água fresca) com o Babaláwo (ou na ausência de outros Awoses), trata dos adimus (oferendas), da limpeza do espaço, etc.
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Benefícios na Ausência: Goza de todos os benefícios do Babaláwo em cerimónias, mas somente com autorização prévia.
III. Crítica e Apelo à Mudança (Visão do Autor)
Okanbi condena as restrições impostas às mulheres, classificando-as como um produto da "cultura machista do homem" e da deturpação dos fundamentos originais.
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Similaridade com Outras Religiões: Okanbi traça um paralelo com a religião católica, que restringe as mulheres a funções de apoio, limpeza e preparação de comida.
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Condenação Divina: O machismo é condenado pelos Orichás e divindades Iorubás.
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Apelo à Igualdade: Okanbi defende que, após muitos séculos, é tempo de a religião se adaptar à igualdade de deveres e obrigações religiosas entre homem e mulher.
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Advertência às Mulheres: As mulheres são alertadas para o facto de que, embora Orúnmìlà e os Orichás sejam justos e misericordiosos, os líderes religiosos são frequentemente "conservadores, egocêntricos e manipuladores". Okanbi conclui que a religião carece de humildade, conforto e amor.
